Com recuo surpreendente em janeiro, inflação baixa pela metade em um ano
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Puxada pela desaceleração de alimentos, queda generalizada do IPCA reforça aposta em redução dos juros: depois da divulgação pelo IBGE, consultoria revisou projeção da Selic para 9,5% ao ano.
São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro subiu 0,38%, o menor resultado para o mês desde 1979, quando teve início a série histórica. Assim, a inflação em 12 meses caiu para 5,35%, a metade do número visto em igual período de 2016 (10,71%).
Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram forte desaceleração do grupo alimentação e bebidas. O componente do IPCA teve alta de 0,35% no mês passado, ante aumento de 2,28% em janeiro de 2016.
"Além da demanda fraca, contamos com condições climáticas favoráveis e com a expectativa de uma safra muito boa para 2017", explicou Eulina Nunes, coordenadora de índices de preços ao consumidor do IBGE.
Após a divulgação do índice de preços, algumas consultorias alteraram suas projeções para a inflação e a taxa de juros deste ano.
A GO Associados, por exemplo, diminuiu a estimativa para o IPCA, de 4,8% para 4,5%, e alterou o esboço para a Selic, de 10% ao ano para 9,5% ao ano.
"Aparentemente, não há fatores que possam prejudicar a trajetória dos preços e da taxa de juros neste ano. O IPCA pode até ficar abaixo do centro da meta do governo [4,5%]", disse Luiz Fernando Castelli, economista da GO.
Outros especialistas, entretanto, adotaram tom mais cauteloso. "Notícias ruins, como problemas derivados do governo de [Donald] Trump ou do Brexit, poderiam abalar a confiança e afetar esses índices", afirmou Miguel de Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Efeito semelhante poderia ser causado pela crise política brasileira. "Principalmente se as medidas econômicas do governo forem afetadas", completou Emerson Marçal, coordenador do centro de macroeconomia aplicada da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).
Na visão de Oliveira e Marçal, o IPCA deve encerrar 2017 entre 4,5% e 5%. Já a Selic deve ficar próxima dos 10% ao ano, projetaram os especialistas.
Curto prazo
O resultado do IPCA de fevereiro deve atingir patamar semelhante ao de janeiro, de acordo com os entrevistados.
Segundo Eulina, os grupos educação e transportes podem aparecer entre as principais altas deste mês. Isso porque serão contados os reajustes nas mensalidades escolares e alguns aumentos nas tarifas municipais de ônibus.
Em janeiro, o maior avanço, de 0,77%, também veio do grupo transportes. Em nota divulgada ontem de manhã, o IBGE justificou esse resultado.
"Das 13 regiões pesquisadas, as tarifas dos ônibus urbanos ficaram mais caras em oito, especialmente em Brasília (14,75%) e Vitória (15,19%)."
Uma alta de 1,28% do item combustíveis também colaborou para o avanço do grupo transportes. "O litro do etanol subiu 3,10%, com destaque para Campo Grande (6,12%), enquanto o litro da gasolina subiu 0,84%", apontou o documento do IBGE.
Queda generalizada
Na comparação entre o mês passado e igual período de 2016, foi notado recuo em quase todos os grupos do IPCA.
Para habitação, a alta passou de 0,81% para 0,17%. Em artigos de residência, o aumento de 0,45% foi substituído por deflação de 0,1%. Já a queda dos preços de vestuário (-0,24%) também foi menor do que a registrada em janeiro deste ano (-0,36%).
Ainda foram registradas desacelerações em saúde e cuidados pessoais (de 0,81% para 0,55%), despesas pessoais (de 1,19% para 0,45%) e educação (de 0,31% para 0,29%). O grupo transportes, que teve inflação de 1,77% no primeiro mês do ano passado, também seguiu trajetória de queda.
No sentido contrário, comunicações foi o único componente do IPCA que acelerou, ao passar de 0,22%, em 2016, para 0,63%, neste ano.
"A recessão teve papel importante para essas quedas, principalmente por derrubar os preços de serviços", avaliou Castelli. Ele ainda ressaltou a estabilização do dólar em um patamar mais baixo, o que favorece a baixa dos índices.
Para Marçal, a condução monetária do Banco Central, durante 2016, foi fundamental para esse recuo. "Agora é hora de colher os frutos", concluiu.
DCI Online - SP / Economia
Publicação: 09/02/2017