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As dores da economia brasileira

6 min de leitura
13/05/2016

O pacote de Henrique Meirelles para a economia deve ser anunciado hoje, na tentativa de tirar o Pais da UTI

No primeiro pronunciamento público como presidente interino, Michel Temer disse que não se pode mais falar de crise.

Para ele, é urgente unificar e restaurar a confiança no País. Porém, quando se fala em economia, é impossível escapar dos problemas. Afinal, com taxas recordes de desemprego, déficit fiscal e dívida pública, a economia brasileira parece estar na UTI. O remédio para este quadro clínico "preocupante", como já classificou o FMI, precisa ser prescrito pelo novo governo. A medicação escolhida pelo peemedebista, no entanto, pode não aliviar as dores tão rápido como se gostaria, dizem especialistas. O pacote econômico deve ser anunciado hoje pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Porém, os rumos do Governo Temer já começaram a vir à tona com o programa "Uma Ponte para o Futuro", cuja meta é o ajuste fiscal. A medida seria fundamental para reequilibrar as contas públicas e retomar o crescimento. O caminho que vai propiciar este ajuste, no entanto, divide opiniões. O próprio governo afirma que será preciso tomar medidas duras. Estratégias que, além de impopulares, não trazem efeitos imediatos e até aprofundam a recessão no curto prazo, segundo especialistas.

"A prioridade será a questão fiscal e isto é importante para conter o crescimento explosivo da dívida pública, retomar a confiança e a estabilidade macroeconômica. O processo não é fácil, porque envolve cortes de despesas que vão afetar vários grupos de interesse", pontua o economista Clemens Nunens, da FGV/EESP.

"Temer vai tomar medidas difíceis, que devem agravar por um tempo a atividade econômica, para que possa inverter esta tendência no futuro. É como tomar um remédio amargo para ter uma recompensa posterior", completa o professor de finanças do Ibmec/RJ, Marcos Melo. O documento peemedebista defende que, para resolver o problema fiscal sem aumento de impostos, é preciso reformar a Lei do Orçamento, modificar a Previdência Social e reduzir custos da dívida pública.

Para o Orçamento, a ideia é desvincular as receitas da União, o que pode tirar da categoria obrigatória despesas com saúde e educação ; desindexar os benefícios do salário mínimo, tomando viável a concessão de reajustes menores que os do salário mínimo a aposentados e pensionistas; e analiçar anualmente os programas sociais, para que eles sejam mantidos apenas quando forem compatíveis com seus benefícios e custos.

Com isso, pretende-se criar um orçamento zero, que não tenha gastos pré-definidos, para que suas receitas sejam repartidas de acordo com a situação atual dos cofres públicos, evitando novos déficits.

Para reduzir os gastos da União, o documento ainda diz ser obrigatório elevar a idade mínima da aposentadoria para 65 anos no caso dos homens e 60 para as mulheres. No discurso, Michel Temer ainda ressaltou a necessidade de abrir espaço para o capital privado na economia brasileira, o que, segundo especialistas, sugere o aumento das privatizações e concessões de equipamentos de infraestrutura como portos, aeroportos e rodovias.

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Para resgatar o saúde da economia brasileira: AJUSTAR CONTAS PUBLICAS:

DIMINUIR DIVIDA E AUMENTAR ARRECADAÇÃO
Diagnóstico: Saldo devedor é de R$ 2.88 trilhões Deficit público já passa dos R$ 100 bilhões
Remédio de Temer: Corte de gastos
Tratamento alternativo: Especialistas dizem que não é possivel fazer ajuste fiscal sem o aumento de juros. Possibilidade é de aumento dos tributos sobre a gasolina e do IOF
Reações adversas: Programas sociais terão continuidade analisada anualmente, podendo ser limitados

REFORMAR ORÇAMENTO
Diagnóstico: Orçamento "engessado" não permite cortes substanciais
Remédio de Temer: Desvinculação de receitas da União. Fim da indexação de rendas e benefícios ao salário minimo
Reações adversas: Fim da obrigatoriedade de gastos com saúde e educação. Ajustes menores que os do mínimo para aposentados e pensionistas. Medidas diminuem a renda da sociedade, mantendo demanda da indústria e do comércio em baixa

REFORMAR PREVIDÊNCIA
Diagnóstico: Despesas já superam em R$ 85,8 bilhões as receitas previdenciárias
Remédio de Temer: Elevar a idade minima da aposentadoria para 65 anos para os homens e 60 para as mulheres

RETOMAR CRESCIMENTO ECONÔMICO
Diagnóstico: PIB brasileiro caiu 3,8% em 2015
Remédio de Temer: Incentivo ao capital privado, com concessões, privatizações e abertura para o comércio internacional

GERAR EMPREGOS
Diagnóstico: Desemprego recorde atinge mais de 11 bilhões de pessoas
Remédio de Temer: Incentivar investimentos do capital privado, para retomar produção e geração de empregos
Reações adversas: Temer pode dar reajustes salariais menores, permitindo que convenções prevaleçam sobre normas trabalhistas

REDUZIR INFLAÇÃO E JUROS
Diagnóstico: Inflação acumula alta de 9,28% nos últimos 12 meses, muito acima do centro da meta do Governo, de 4.5%. A taxa básica de juros (Selic) é mantida em 14.25% desde julho do ano passado
Remédio de Temer: Queda dos juros e da taxa de câmbio

A epidemia chamada desemprego

Em seu primeiro discurso como presidente em exercício, Michel Temer assegurou que irá combater o desemprego e devolver este bem "fundamental" aos cidadãos. O desafio será grande. Afinal, o número de desempregados no Brasil chegou a 11,1 milhões de pessoas no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Temer ainda não esclareceu de que forma pretende fazê-lo, mas, para especialistas, a chave está na retomada da confiança do empresariado, sobretudo, em setores como a indústria, que dinamiza o mercado de trabalho.

Enquanto isso, alguns setores bastante atingidos pelo desemprego enxergam a mudança de forma esperançosa, ainda que com cautela. "É preciso tentar reverter expectativas do mercado, para que os empresários voltem a investir, aumentando, consequentemente, o número de empregos", avalia o coordenador do curso de economia da Faculdade Boa Viagem (FBV), Antônio Pessoa.

Embora considere que essa seja a alternativa para reverter a alta taxa de desemprego no País, Pessoa acredita que Temer deve investir no processo de aceleração da indústria. Para o economista Jorge Jatobá, essa é a saída. "Com a volta de investimentos por parte do empresariado haverá um aumento de postos de trabalho", opina. Os efeitos, entretanto, na opinião dos dois especialistas, só devem ser sentidos em 2017. E olhe lá. Cadeia produtiva Entre os setores que demitiram significativamente, tanto no ano passado quanto neste ano, está o varejo, para o qual a mudança de governo é bem vista. "Sabemos que não será fácil assumir o País da forma como ele está, mas estamos esperançosos de que a retomada da economia virá e conseguiremos recuperar os postos de trabalho", considera o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL/Recife), Eduardo Catão.

"Estamos confiantes, mas precisamos perceber que os investimentos estão aparecendo", diz o presidente da Associação Lojistas dos Shoppings de Pernambuco (Aloshop-PE), Ricardo Galdino. Remédio através do empresariado Uma das primeiras medidas a ser anunciada pela gestão Michel Temer será o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), cuja missão será a atrair investimento privado para a infraestrutura do Pais.

Em seu comando estará o ex-ministro Moreira Franco, mas o órgão será atrelado à Presidência da República. Em curto prazo, a ideia é combater a recessão e estancar o crescimento do desemprego, com concessões, Parcerias Público-Privadas (PPP), arrendamentos e até privatizações, modificando a forma de contratação de obras públicas.

A Confederação Nacional da Indústria destaca que a participação dos investimentos na área tem de dobrar nos próximos seis anos. A entidade acredita que, para o Pais ter uma rede de transporte integrada e eficiente, garantia no abastecimento de energia e saneamento básico, é preciso aumentar os investimentos para 3,65% do PIB em e chegar a 5% em 2022.

"A superação desses obstáculos depende da efetiva participação do setor privado no investimento e na gestão dos serviços", afirma o gerente-executivo de Infra-estrutura Wagner Cardoso. O analista de investimentos Tiago Monteiro diz que os investimentos chegarão em médio prazo. "Veremos a entrada de dinheiro, mas não tão maciça, por causa do rebaixamento que o Pais sofreu pelas agências de risco, mas se as propostas forem sérias, e conseguirmos ver o horizonte menos opaco, o Pais vai ficar mais atrativo para os investimentos".

Veículo: Folha de Pernambuco
Data: 13/05/2016

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