Perspectivas econômicas para a Amazônia 

Economistas buscam o consenso para o desenvolvimento sustentável 

Nos últimos anos as discussões sobre o futuro da Amazônia brasileira ganharam força no Brasil e no mundo. E não poderia ser diferente. A Amazônia compreende metade do território nacional, onde residem quase 30 milhões de pessoas, em meio à maior sociobiodiversidade do planeta. Uma região que carece de atenção dos governos e de programas de desenvolvimento que gerem emprego e renda.  

A FGV através da Escola de Economia de São Paulo (EESP) realizou mais um debate da série Diálogos Amazônicos para discutir sobre o assunto. Economistas apresentaram suas perspectivas sobre algumas questões centrais: Como promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável da região? Qual o papel do programa Zona Franca de Manaus? Qual a importância da Amazônia na agenda de mudanças climáticas?  

Segundo o professor da FGV, Daniel Vargas, para se compreender a economia da Amazônia é preciso levar em consideração quatro momentos importantes da região. O primeiro vai do fim do século dezenove à Segunda Guerra Mundial, com a extração do látex, que representava a atividade de maior geração de riqueza e renda, até a crise da borracha, devido à concorrência internacional e a substituição por novos produtos. 

O momento seguinte remonta o início do processo de industrialização, que vai da Segunda Guerra aos anos 90. Como alternativa à queda do extrativismo, houve investimentos em polos de desenvolvimento, entre eles o Polo Industrial de Manaus que, apesar de gerar emprego e renda para região, deu origem a problemas ambientais e sociais que perduram até hoje.  

A partir dos anos 90, o socioambientalismo e a transferência de recursos para minimizar as desigualdades sociais são o cerne do combate à crise ambiental e às estruturas de comando e controle.  Estados e municípios entram em alerta contra o desmatamento.  

E, por fim, o momento que compreende o final do ano de 2015 ao período atual, que engloba a crise do ciclo das commodities, que dificulta os programas sociais de transferência de renda e passa a exigir uma ação policial mais dura, se exercida sem uma contrapartida econômica. 

 

O país agora precisa criar um projeto de desenvolvimento econômico alternativo. 

Para o professor titular da USP, o economista Ricardo Abramovay, o Brasil tem estudos abrangentes e profundos,  que apontam para um consenso entre os estudiosos”. Ricardo se refere a documentos como o Brasil 2045 (que reúne 73 organizações não-governamentais e que foi dirigido a governantes e candidatos políticos) e ao Projeto Amazônia 2030 (que é visto como um programa de trabalho para a Amazônia). Vale registrar, ainda, a iniciativa Amazonia do Futuro: desenvolvimento que cuida do meio ambiente, com propostas desenvolvidas a partir dos Diálogos Amazônicos e você pode baixar o eBook nosso site.  

E para reinserir o Brasil no cenário internacional é preciso debater sobre a Amazônia. Por isso, de acordo com os especialistas, é necessário acabar com as “pedaladas” relativas ao acordo de Paris, recuperar a confiança dos parceiros internacionais e zerar o desmatamento. A Amazônia tem 8% do PIB brasileiro, mas também responde por 40% das emissões de gases de efeito estufa. 

“Enquanto outros países buscam diminuir a emissão de gases revendo suas matrizes energéticas, de transporte e produção de alimentos, por exemplo, nosso desafio principal ainda é zerar o desmatamento, o que passa necessariamente pelo restabelecimento do poder das organizações competentes para atuar no combate às irregularidades”, afirma Abramovay.  

Além disso, no Brasil, o desmatamento está diretamente ligado à criminalidade e à violência. Não é a toa que região amazônica é uma das mais miseráveis do país. Menos de 60% da população tem acesso à água tratada. Na capital Manaus, 89% da população não têm coleta de esgoto.  

O professor Nelson Marconi, que coordena o Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da FGV, declarou que “antigamente, muitos economistas viam a questão da sustentabilidade como um empecilho ao desenvolvimento. Hoje, felizmente, isso mudou”. Para o coordenador, o desafio agora é buscar novas atividades econômicas que mantenham a floresta em pé, reintegrem a população e utilizem a tecnologia à favor da produção de alimentos, por exemplo.  

 

O futuro do Polo Industrial de Manaus 

Ao levantar o questionamento sobre o futuro do Polo Industrial de Manaus, o professor Márcio Holland destacou que, só no primeiro trimestre de 2022, o pólo gerou 105 mil empregos diretos e em torno de 400 mil postos de trabalho no total (entre empregos diretos e indiretos).  Ainda assim, a Zona Franca de Manaus divide opiniões entre governantes e especialistas.  

Para Ricardo Abramovay, o polo é importante, mas a justificativa econômica de geração de emprego e renda não é mais suficiente para sua defesa. É preciso discutir também a qualidade do que é produzido e negociado lá. O professor ressalta o baixíssimo grau de inovação das indústrias da região e o benefício de algumas delas: “As indústrias de refrigerantes, por exemplo, recebem isenção fiscal de 3 bilhões de reais por ano. E sabemos que elas estão entre as vilãs da obesidade, entre outros fatores. Ou seja, o Estado subsidia estas empresas para que elas ofereçam à sociedade algo que lhe é extremamente prejudicial”, alerta.  

Seguindo esse raciocínio, o professor acredita que só faz sentido a existência de um polo industrial na Amazônia se ele valorizar o que há de mais importante para a região. Assim, de acordo com o professor, o atual polo de Manaus poderia ser convertido numa espécie de Polo Global da Indústria da Sociobiodiversidade. A luta contra a pobreza e a desigualdade social deve estar entre as premissas.  

Assista ao debate Diálogos Amazônicos - Propostas para a Amazônia - Perspectivas dos economistas completo  aqui 

Fonte: 
FGV EESP
Data da publicação: 
27/07/2022
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