PIB cai 0,6% no segundo trimestre e registra sexta retração consecutiva
4 min de leitura
O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre recuou 0,6% em relação aos três meses imediatamente anteriores (na margem), a sexta queda consecutiva nesta base de comparação, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa sequência de retração é a maior da série histórica consolidada pelo instituto desde 1996. Na margem, o PIB só havia recuado no máximo duas vezes seguidas, como entre o último trimestre de 2008 (-4,0%) e o primeiro de 2009 (-1,6%).
O resultado do PIB do segundo trimestre foi divulgado, ontem, em meio à cassação do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Apesar de acumular quedas históricas, a expectativa de especialistas é que o indicador econômico entre em trajetória de estabilidade neste terceiro trimestre.
"O fundo do poço foi o segundo trimestre", afirma Thiago Curado, sócio da 4E Consultoria, que estima variação positiva de 0,04% para o PIB entre os meses de julho a setembro. O economista prevê ainda crescimento de 0,32% durante o último trimestre deste ano. Para 2016 fechado, a projeção é de recuo de 3%, e, para 2017, a estimativa é de alta de 1,3%.
Contudo, essa expectativa de recuperação ainda tem muitas ressalvas. Tanto para Curado como para os demais especialistas ouvidos pelo DCI, a sustentabilidade do crescimento econômico vai depender de sinalizações mais concretas do presidente Michel Temer com relação às medidas fiscais e reformas, como a da Previdência e a trabalhista. A resistência social, a oposição no Congresso liderada pelo PT e as eleições municipais são vistas como possíveis impedimentos para o andamento das propostas.
Além disso, eles pontuam que a recuperação da economia depende ainda da redução da inflação e da taxa básica de juros (Selic), pois estes beneficiam a volta da geração da renda e do emprego, variáveis que ainda devem ter queda no ano.
"Até agora, o governo Temer e o mercado estavam em ''lua de mel''. Mas esse período acabou e os investidores vão passar a exigir avanço nas reformas prometidas", diz Curado. "O que houve, até o momento, foi uma mudança de discurso entre Dilma e Temer, mas nada de concreto. Agora, não há mais a desculpa da interinidade", destaca o economista.
Orlando Assunção Fernandes, professor de economia da ESPM, acrescenta que medidas como a renegociação da dívida dos estados serão cada vez menos aceitas pelo mercado.
Entraves sem fim
Apesar dos investidores "ansiosos" por mudanças, Curado avalia que, dificilmente, o governo deve avançar no ajuste fiscal antes das eleições municipais, em outubro deste ano. "O PMDB tem muitos candidatos pelo Brasil que estão concorrendo [tanto para as prefeituras, como para as câmaras de vereadores] nessas eleições. Dificilmente medidas impopulares sairão do papel nesse período", observa Curado.
O economista da 4E Consultoria pondera que, sem encaminhamento de medidas fiscais, há um risco de reversão negativa na confiança dos empresários em relação ao governo. "Essa [a confiança] é uma variável chave para o crescimento", diz ele. Para Curado, foi justamente a melhora da confiança que contribuiu para a interrupção das quedas da indústria e dos investimentos no segundo trimestre, na margem. Naquele período, depois de cinco recuos trimestrais consecutivos, a indústria cresceu 0,3%. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos), expandiu 0,4%, após cair por dez trimestres.
"Se a confiança permanecer, a indústria, pelo lado da oferta, e os investimentos, pelo lado da demanda, serão os dois motores da retomada de crescimento", finaliza Curado.
Já para Nelson Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), foi o desempenho das exportações que garantiu a interrupção das quedas da indústria no segundo trimestre. "As vendas externas ajudaram muito a indústria no período recente, por conta da desvalorização do real frente ao dólar. No entanto, nossa moeda valorizou muito e, talvez, as exportações não ajudem tanto o setor como no início do ano", reflete Marconi.
O economista da FGV considera que um programa de concessões de obras públicas será central para a retomada da atividade econômica. "Uma medida como essa consegue estimular o investimento privado, o que por sua vez, gera emprego, demanda e gastos por parte de outros setores", afirma.
Fernandes da ESPM também aposta no crescimento pela via dos investimentos. Mas, destaca que, o desenvolvimento da oferta precisará ter uma contrapartida da demanda lá na frente. Por isso, o professor considera que a redução da inflação e a diminuição dos juros serão fundamentais para estimular o consumo, variável que teve a sua segunda queda seguida no segundo trimestre, na margem (-0,7%). Os serviços também caíram pela sexta vez consecutiva, na mesma base de comparação (-0,8%).
Marconi pontua ainda que o ajuste fiscal pode não ocorrer na magnitude que o mercado está esperando. "Há resistência social e a oposição não vai ser tão tranquila. Além disso, tem as eleições municipais."
DCI Online - SP / Economia
Publicação: 01/09/2016