Por que o preço das commodities subiu e como isso influi na economia
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Alta se deve a mudanças na oferta e na demanda de determinados produtos e é considerada ‘modesta e localizada’ por Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e professor da FGV/EESP.
Trator carrega cana-de-açúcar em fazenda de Ribeirão Preto (SP)
O valor das commodities, produtos básicos ou em estado bruto como minério de ferro, soja ou carne “in natura”, subiu em 2016, após cinco anos em queda. É uma alta modesta, se comparada ao patamar desses preços em 2011, mas representa uma mudança na trajetória do comércio desses produtos.
O preço das commodities no mercado mundial é importante porque esses produtos básicos respondem pela maior parte das exportações brasileiras. Em 2013, eles representavam 65% do valor de bens exportados pelo país, segundo levantamento da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Quanto mais alto o preço das commodities, mais dinheiro entra no país, gerando efeitos positivos em outros setores da economia, como na produção de tratores ou adubos.
Alguns gestores de fundos de investimento estimam que parte das commodities continuará se valorizando em 2017, como carne bovina ou farelo de soja, segundo a agência de notícias “Bloomberg”.
O PIB (Produto Interno Bruto), soma das riquezas produzidas em um ano, do setor do agronegócio deverá crescer 2% em 2017, segundo a CNA, e pode responder por metade do crescimento do país no próximo ano.
O Brasil se beneficiou do chamado boom das commodities entre 2005 e 2011, puxado principalmente pelo crescimento da China. A queda do preço desses produtos, de 2012 em diante, é um dos motivos da crise econômica que afeta o país.
O movimento de recuperação de preços das commodities, contudo, é de pequena escala e está longe de representar um retorno aos valores de pico das commodities. Em abril de 2011, os preços desses produtos eram em média 92% maiores que os atuais e, em junho de 2008, 140% maiores.
Abaixo, a evolução do índice CRB (da Thomson Reuters/CoreCommodity), um dos principais medidores do preço das commodities no mercado internacional, incluindo o petróleo.
Valor das commodities
Quais são os motivos da alta
O Nexo perguntou a Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura de 2003 a 2006 e coordenador do GV Agro (Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas), qual é o motivo da alta no preço das commodities e seu impacto no Brasil.
Rodrigues afirmou que a mudança na tendência do preço é “modesta e localizada” e é consequência de fatores diversos que afetaram a oferta e a demanda de alguns produtos. Alguns exemplos, segundo ele:
Açúcar
A produção mundial de açúcar caiu muito em 2016 por questões ambientais, como uma seca na Ásia. A menor oferta fez os preços do açúcar subirem. Em consequência, as usinas sucroalcooleiras no Brasil optaram por fabricar mais açúcar e menos etanol em 2016, o que também fez o preço do biocombustível subir.
Suco de laranja
Depois da crise de 2008, o consumo de suco de laranja despencou. Mas, como a laranja é uma cultura permanente e não é fácil reduzir sua produção, os estoques continuaram altos e houve uma queda de preço. Enquanto o mercado não se adaptou, o preço ficou muito baixo. No ano passado essa mercado se equilibrou, e os preços se recuperaram.
Café
O Brasil, maior produtor de café do mundo, teve seca e geada em parte de sua zona produtora do grão em 2016, o que fez os preços subirem.
Carnes
A renda per capita dos países emergentes aumentou mais do que a dos países desenvolvidos, e seus habitantes começaram a comer mais carne, o que deixou o preço desse produto mais “convidativo”. Além disso, os Estados Unidos abriram em julho de 2016 seu mercado para a carne brasileira “in natura” — o que não é importante em termos de volume exportado a curto prazo, mas sinaliza preços bons a médio prazo.
Soja, milho e algodão
Nesses três produtos, não há indicativo de alta nos preços. A variação dependerá de fatores ainda incertos como o tamanho da demanda da China, o comportamento do câmbio — quando o dólar se valoriza, aumenta o valor em Real das exportações de commodities — e se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levará adiante suas promessas protecionistas.
Explicado As commodities e seu impacto na economia do Brasil