Redução da taxa básica de juros deve se intensificar a partir desta semana
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Os cortes na taxa básica de juros (Selic) devem ser reforçados nos próximos meses, segundo especialistas entrevistados pelo DCI. O movimento deve começar já nesta semana, com a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano.
"A inflação recuou bastante em 2016 e há expectativa de novas quedas em 2017. Além disso, o baixo crescimento econômico e o avanço do desemprego também devem pesar para uma diminuição maior da Selic", justificou Miguel de Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Para ele, os diretores do Banco Central (BC) darão maior valor ao desempenho ruim do Produto Interno Bruto (PIB) ao decidir o rumo da taxa de juros nos próximos meses. "Existe, inclusive, uma pressão forte do governo por uma queda maior."
Oliveira, como a maior parte do mercado, disse acreditar em um corte de 0,5 ponto percentual na reunião desta semana, o que levaria a Selic a 13,25% ao ano. Entretanto, ele não descartou um movimento mais ousado pelo Copom. "Um corte de 0,75 ponto não seria uma surpresa", disse.
Professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rogério Mori também apostou em uma diminuição de 0,5 ponto percentual na reunião desta quarta-feira.
"Não seria do perfil desse BC uma ação muito mais ousada", avaliou o entrevistado. Desde que Ilan Goldfajn assumiu a presidência do banco, apenas dois cortes - ambos de 0,25 ponto percentual - foram realizados, nas últimas reuniões do ano passado.
Acima dos 10% ao ano
Os entrevistados ainda indicaram que os cortes devem se repetir nos próximos meses, especialmente se a atividade econômica continuar fraca.
"Se não houver uma retomada do PIB, é possível que a Selic chegue a um dígito neste ano. Mas a tendência é de que ela fique um pouco acima dos 10%", avaliou Mori.
De acordo com ele, o cenário mais provável é de uma redução no ritmo dos cortes entre o segundo e o terceiro trimestres, com uma eventual recuperação da economia.
Já Oliveira projetou que a taxa de juros chegará aos 10,5% ao ano em dezembro. "Temos muito riscos internos e externos, que devem evitar uma diminuição mais intensa."
Lava Jato e Trump
Entre os eventos que poderiam travar uma redução maior da Selic, seguiu Oliveira, estão o avanço da Lava Jato, que ampliaria ampliar a turbulência no Brasil, e uma condução imprevisível por Donald Trump, que aumentaria a instabilidade econômica global.
Outros fatores que poderiam influenciar a política monetária, por acentuar a inflação, são o crescimento na taxa de juros norte-americana e um reajuste elevado no preço da energia brasileira, complementou Nori.
O professor também mencionou o impacto das medidas do ajuste fiscal, como o teto para gastos públicos e a reforma da previdência, para o futuro da Selic.
"Conforme esses projetos forem efetivados, mais confiança será adquirida pela economia brasileira, o que abre um espaço maior para cortes na taxa de juros", afirmou.
Projeções
A expectativa dos analistas do mercado financeiro é de que a taxa de juros encerre 2017 em 10,25% ao ano, mostrou o relatório Focus da semana passada. Para a reunião desta semana, é esperado corte de 0,5 ponto percentual.
A perspectiva também foi apresentada pela FecomercioSP, em nota divulgada na última sexta-feira. "Sem colocar em risco a seriedade de seus objetivos de combate à inflação, [o Copom] pode acelerar esse ritmo de queda", indicou o documento da federação.
A entidade ainda apontou que o BC "não tem outra escolha a não ser manter e acelerar o ciclo de redução de juros", por causa da queda dos preços e da fraqueza econômica.
Já para a inflação, as estimativas do relatório Focus indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), recuará para 4,87% até o final deste ano.
Na opinião de Mori, os últimos comunicados do BC indicam que o Copom continuará priorizando a redução dos preços nos próximos meses. "É importante sinalizar esse comprometimento com o centro da meta [4,5%] de inflação. Passamos muito tempo perto ou acima do teto da meta do governo", defendeu ele.
Em novembro do ano passado, o IPCA acumulado em 12 meses caiu para 6,99%, o menor patamar desde 2014, quando o índice de dezembro foi de 6,41%. Em janeiro de 2016, por outro lado, a inflação chegou a 10,71%, maior número desde novembro de 2003, quando o IPCA foi de 11,02%.
DCI Online - SP / Economia
Publicação: 09/01/2017